Biografia
Compositor
Nasceu no Rio de Janeiro em 1942. Começou seus estudos musicais em 1958 e em 1960 ingressou na Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil (atual UFRJ), na classe de violino do Prof. Carlos de Almeida. Em 1964 começou o curso de composição e regência na mesma escola, estudando com Henrique Morelembaum, José Siqueira e Eleazar de Carvalho. Simultaneamente ele seguiu o curso de composição de Guerra Peixe na Pró-Arte do Rio de Janeiro.
Anos 60
Em 1961, começou a se interessar pela música eletrônica, ao mesmo tempo em que ingressava no curso de Física da Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi). Depois de construir vários geradores, filtros, moduladores e outros equipamentos eletrônicos, Antunes fundou o Estúdio de Pesquisas Cromo-Musicais, destacando-se desde então como precursor da música eletrônica no Brasil. Em 1962 compôs a primeira obra brasileira feita exclusivamente com sons eletrônicos: Valsa Sideral. A partir de 1966 ele começa a se destacar como um dos nomes mais representativos da vanguarda musical brasileira e participa de vários festivais nacionais e internacionais.
Em 1965 ele dá início a importantes pesquisas no domínio da correspondência entre os sons e as cores e compõe uma série de trabalhos a que dá o nome de Cromoplastofonias, para orquestras, fitas magnéticas, luzes, usando também os sentidos do olfato, do paladar e do tato.
Em 1967 ele foi convidado pelo Instituto Villa-Lobos do Rio de Janeiro, para organizar o seu Centro de Pesquisas Musicais e foi nomeado Professor de Música Eletroacústica do mesmo Instituto, onde ministrou aulas de composição e para onde transferiu seu laboratório. Entre 1965 e 1968 participou intensamente dos movimentos artísticos de vanguarda do Rio de Janeiro, apresentando suas Cromoplastofonias e seus Ambientes em salões de artes plásticas e integrando o grupo precursor do chamado poema-processo.
Em 1969 ele ganhou uma bolsa para estudos pós-graduados em composição no Instituto Torcuato Di Tella de Buenos Aires, como vencedor do concurso bienal que selecionava um compositor de cada país das Américas para realizar estudos no Centro Latinoamericano de Altos Estudios Musicales. Com a bolsa, Antunes trabalhou durante dois anos sob a orientação de Alberto Ginastera, Luis de Pablo, Eric Salzman, Umberto Eco, Francisco Kröpfl e Gerardo Gandini. Em 1969 e 1970 ele trabalhou no Laboratório de Música Eletrônica do Instituto Torcuato Di Tella de Buenos Aires.
Anos 70
Em 1970 ele continuou suas pesquisas no Instituto de Sonologia da Univesidade de Utrecht, com uma bolsa do governo holandês. Em Utrecht ele se especializou em Computer Music sob a orientação de Gottfried Michael König, Greta Vermeulen, Stan Tempelars e Fritz Weiland, trabalhando com o computador Eletrologica X-8. Dentre suas obras importantes deste período, destaca-se a Music for Eight Persons Playing Things.
Em 1971/73 ele ganhou uma bolsa do governo francês para um curso de aperfeiçoamento no Groupe de Recherches Musicales de l’ORTF, onde atuou como compositor-estagiário sob a orientação de Pierre Schaeffer, Guy Reibel e François Bayle. No mesmo período iniciou o Doutorado em Estética Musical na Université de Paris VIII, tendo Daniel Charles como orientador.
Em junho de 1973 Antunes foi convidado pela Universidade de Brasília para dirigir o Curso de Composição Musical no Departamento de Música, onde foi professor titular até 2011, quando se aposentou.
Na Universidade ele reorganizou, com equipamentos profissionais, seu antigo estúdio de Música Eletrônica, e fundou o GeMUnB (Grupo de Experimentação Musical), um conjunto de oito músicos especializado em música contemporânea e em live-electronics que fez uma turnê de concertos na Europa em 1975.
Em 1976/77 Antunes teve mais uma longa estadia em Paris com apoio da Universidade de Brasília e uma nova bolsa do governo francês para concluir sua tese de doutorado Son Nouveau, Nouvelle Notation.
Anos 80
Entre 1978 e 1989 ele desenvolveu intensa atividade cultural e política em Brasília, junto a movimentos populares e de intelectuais, pela democratização do país. Durante esse período ele escreveu várias obras engajadas politicamente, tipo de corrente estética a que aliás sempre esteve ligado, mas sempre com uma linguagem musical de vanguarda. Data dessa época sua famosa Sinfonia das Diretas (Sinfonia das Buzinas) e o polêmico Hino Nacional Alternativo (Hino ao Novo Brasil). Durante o mesmo período ele dirigiu vários projetos musicais na Universidade de Brasília (Núcleo de Pesquisas Sonológicas, Orquestra de Câmara da UnB, Festivais de Música Contemporânea, etc.) e fêz várias viagens à Europa para participar de Festivais e dirigir concertos.
Anos 90
Em 1992/93 foi contemplado com a Bolsa Vitae, uma bolsa de Pós-Doutorado do CNPq e uma licença da Universidade, para realizar pesquisas durante um ano na Europa e no Oriente Médio (Berlin, Baden-Baden, Freiburg, Amsterdam, Tel Aviv, Jerusalém e Paris). Durante esse período ele concluiu sua nova ópera OLGA.
De janeiro a julho de 1993 ele foi compositor-em-residência nos Ateliers UPIC, dirigidos por Iannis Xenakis, onde trabalhou no domínio da informática musical e da correspondência som & imagem, realizando as fitas de sons eletrônicos a serem utilizadas, simultaneamente à parte sinfônica, na sua nova ópera. Em 1993 sua obra Idiosynchronie foi distinguida com o Prêmio de Recomendação da Tribuna Internacional de Compositores da Unesco.
Em 1994 Antunes foi eleito membro titular da Academia Brasileira de Música, teve participação especial no Festival de Música Eletroacústica de Bourges, na França, e recebeu o Prêmio de Música Criativa do Festival de Londrina, no Paraná. Nesse mesmo ano organizou e coordenou o I Encontro de Música Eletroacústica, em Brasília, em que foi fundada a Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica. Antunes foi eleito presidente da SBME, tendo, em 1997, sido reeleito presidente por mais um período.
Entre fevereiro e maio de 1995 realizou uma série de atividades na França, participando do Festival Présences 95, onde foi estreada sua nova obra Rimbaudiannisia MCMXCV, encomendada pela Radio France.
No período realizou obras eletroacústicas, sob encomenda, nos Estúdios de Música Eletroacústica do Groupe de Recherches Musicales de Paris, dos Ateliers UPIC de Massy e do Groupe de Expérimentation Musicale de Bourges.
A obra Rimbaudiannisia MCMXCV recebeu, em 1996, o Prêmio de Recomendação da Tribuna Internacional de Compositores da Unesco e foi apresentada, em estréia brasileira, durante a XII Bienal de Música Brasileira Contemporânea, no Rio de Janeiro.
Em 1997 ele ganhou uma bolsa da Fundação Rio-Arte, para compor um Balé instrumental-eletrônico. Também em 1997 ele organizou e dirigiu o II Encontro de Música Eletroacústica, em Brasília, dessa vez em caráter internacional. Na oportunidade foi realizada assembléia geral da Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica quando Antunes foi reeleito seu presidente.
Em fevereiro de 1998 ele foi convidado pela Universidade de Aveiro, Portugal, para ministrar master-classes durante as Jornadas de Música Eletroacústica. Em junho de 1998, foi convidado pelo Instituto Goethe e pelo grupo Músicos Contemporáneos de Córdoba, Argentina, para ministrar conferências e realizar concertos com suas obras.
Também em 1998 ele recebeu o prêmio Estancias 1998 do Ministério da Cultura do governo espanhol. Com esse prêmio Antunes ministrou master-classes no Laboratorio de Informática y Electrónica Musical (LIEM) de Madrid, onde ele trabalhou durante o período julho-agosto realizando novas obras eletroacústicas. Na II Bienal de Música Eletroacústica do Estado de São Paulo (II BIMESP), realizada em outubro de 1998 e que comemorou os 50 anos da música eletroacústica, Antunes recebeu homenagem especial como precursor deste tipo de música no Brasil.
Anos 2000
No biênio 1999/2000 Antunes escreveu duas grandiosas obras coral-sinfônicas por ocasião dos festejos dos 500 anos do Brasil: Cantata dos Dez Povos, encomenda da Universidade de Brasília, e Sinfonia em Cinco Movimentos, encomenda do Ministério da Cultura. Em 1999 participou do Festival da SIMC, na Romênia, onde regeu a Orquestra Sinfônica de Iasi apresentando sua Rimbaudiannisia para coro infantil e orquestra.
Em outubro de 2001 Antunes representou mais uma vez o Brasil no Festival da SIMC, na cidade de Yokohama no Japão. Para esse festival foi selecionada sua obra eletroacústica Hombres tristes y sin título rodeados de pájaros en noche amarilla, violeta y naranja. Após a estada no Japão, Jorge Antunes esteve em Paris onde apresentou concertos monográficos de suas obras, realizou conferências na Université de Paris VIII, e compôs obras novas, sob encomenda, no Estúdio 116 do GRM na Radio France.
Em 2002, no ano em que foram comemorados os 60 anos de nascimento de Jorge Antunes, o compositor recebeu homenagens significativas em várias partes do mundo. Em junho, a convite da Fundação Gaudeamus de Amsterdam, Antunes esteve na Holanda onde foi homenageado com vários concertos monográficos de suas obras.
Em julho de 2002 Antunes recebeu, do Ministério da Cultura da França, o título de Chevalier des Arts et des Lettres, um dos mais importante títulos honoríficos outorgados pelo governo francês. Em setembro de 2002 a Assembléia Legislativa do Distrito Federal, Brasil, outorgou a Antunes o título de Cidadão Honorário de Brasília.
Em 2003 a editora Sistrum publicou uma biografia de Jorge Antunes escrita por Gerson Valle, intitulada: Jorge Antunes, uma trajetória de arte e política. No mesmo ano alguns CDs monográficos, com obras de Antunes, foram publicados pela Academia Brasileira de Música, pela gravadora Mode Records de Nova York, pela Editora da UnB e pelas Edições Paulinas-Comep de São Paulo.
Em novembro de 2003, Jorge Antunes organizou e coordenou o III Encontro Internacional de Música Eletroacústica, em Brasília. Na Assembléia Geral da Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica, SBME, Antunes foi reeleito presidente.
Entre abril e agosto de 2004 Jorge Antunes passou uma temporada na Europa, estreando suas novas obras e dando conferências na França, na Áustria e na Alemanha. Em novembro de 2004 Jorge Antunes participou pela décima terceira vez do Festival da SIMC (Sociedade Internacional de Música Contemporânea), que, naquele ano, foi realizado na Suiça. A obra brasileira selecionada pelo júri do Festival foi Eoliolinda, escrita por Antunes em 2001 para orquestra de flautas.
Em 2005 Jorge Antunes publicou, com o apoio da SACEM, Paris, un CD com sua obra monumental Cantata dos Dez Povos. No mesmo ano ele recebeu homenagens em Crest, França, durante o Festival Futura, em que foi organizado um concerto intitulado Portrait Jorge Antunes.
Ele publicou também um outro CD, com o apoio da Associação de Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), com a gravação do registro histórico de sua obra Sinfonia das Diretas. Seu terceiro livro da série “Sons Novos” foi publicado pela Editora Sistrum, com o apoio do Fundo de Apoio à Cultura do governo do Distrito Federal.
Também em 2005, o cineasta Carlos Del Pino fez o longa metragem intitulado “Maestro Jorge Antunes, Polêmica e Modernidade”, com o apoio do projeto Doc-TV do Ministério da Cultura e da Radiobrás. O filme narra a saga de Antunes desde sua juventude no bairro proletário do Rio de Janeiro, atuante na política estudantil, como compositor engajado na luta por justiça social, até sua projeção internacional como compositor de vanguarda. Esse filme foi transmitido nacionalmente, em toda a rede de televisões educativas brasileiras, em novembro de 2005.
Em 12 de abril de 2006 foi estreada sua obra Blaue Elegie für Nikolaus von Myra, para mezzo-soprano e oito violoncelos. A composição tem 25 minutos de duração e foi encomendada pela fundação Stichting Dijkverzwaring, da Holanda, para o Cello Octet Conjunto Ibérico dirigido por Elias Arizcuren. O concerto foi realizado no novíssimo teatro de Amsterdam, o Muziekgebouw aan’t IJ. A solista foi a mezzo-soprano holandesa Gerrie de Vries.
Em outubro de 2006 sua ópera Olga foi estreada na programação oficial do Theatro Municipal de São Paulo. Em 2007 Jorge Antunes foi contemplado com o prêmio Bolsa de Permanencia da Fundación Carolina de Madri, Espanha, e recebeu encomenda da Orchestre de Flûtes Français, dirigida por Pierre-Yves Artaud, para compor um concerto para saxofone barítono e orquestra de flautas. A estréia mundial dessa obra foi realizada em 13 de março de 2008, na Salle Alfred Cortot, em Paris. O solista foi o saxofonista Claude Delangle e o regente foi o próprio Jorge Antunes.
Durante sua estada em Madri e em Paris, no primeiro semestre de 2008, Jorge Antunes realizou vários concertos e palestras, destacando-se o concerto monográfico de suas obras no novo Auditório do Museo de Arte Reina Sofia, em Madri, e concertos e palestras na Université de Paris VIII, em Paris.
Em 2009 Antunes foi premiado pela Funarte com a Bolsa Estímulo à Criação Artística, para compor um poema sinfônico em homenagem ao centenário de Mestre Vitalino. A obra, intitulada O Massapê Vivo, foi estreada em final de outubro de 2009, durante a XVIII Bienal de Música Brasileira Contemporânea, no Rio de Janeiro.
Em 2010 Jorge Antunes criou o Grupo Ópera de Rua. Também em 2010, recebeu encomenda da Funarte, para escrever uma obra nova para dez instrumentos. Essa nova composição, intitulada Brasil de pé atrás, foi estreada em 13 de outubro de 2011, na XIX Bienal de Música Contemporânea Brasileira, no Rio de Janeiro.
Anos 2010
Em maio de 2012 Jorge Antunes foi homenageado pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, durante o XXVI Panorama da Música Brasileira Atual. O Festival foi dedicado ao compositor, pelos seus 70 anos de idade. Outras instituições lhe prestaram homenagens pelos seus 70 anos, promovendo concertos monográficos de suas obras: Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília, Festival Música Nova de Ribeirão Preto, Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Casa Thomas Jefferson de Brasília, etc. Em setembro-outubro de 2012 Antunes realizou uma turnê de concertos na Áustria, na Alemanha e em Israel, com suas obras, com o GEMUNB (Grupo Experimental de Música Nova do Brasil).
Em novembro de 2012 recebeu o prêmio Ibermúsicas, para ser compositor-residente no México, para realização de pesquisa e composição de nova obra no CMMAS (Centro Mexicano para la Música y las Artes Sonora). Durante sua estada na cidade de Morélia, em agosto-setembro de 2013, ele compôs obra nova intitulada Carta Athenagorica.
Em 2014 foi estreada, em Brasília, sua nova ópera A Cartomante. Essa ópera foi uma encomenda, financiada pelo FAC-DF (Fundo de Apoio à Cultura do DF). Nesse mesmo ano Antunes recebeu encomenda da FUNARTE, para compor uma nova obra sinfônica, para ser estreada na XX Bienal de Música Brasileira Contemporânea, no Rio de Janeiro, em outubro de 2015. O título dessa obra, para grande orquestra, é “Apoteose de Rousseau”.
Em 2015 recebeu encomenda do Theatro São Pedro de São Paulo, e do Instituto PensArte, para compor uma nova ópera (O Espelho), com libreto de Jorge Coli. A ópera O Espelho foi estreada em março de 2017, no Theatro São Pedro, de São Paulo.
Em 2016 Jorge Antunes recebeu apoio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, para uma série de apresentações de suas duas minióperas para crianças: O Rei de uma Nota Só e A Borboleta Azul. No mesmo ano, recebeu o Prêmio Funarte de Composição Clássica 2016, com sua obra Tríptico Bocageano, uma coletânea de três canções usando sonetos do poeta português Bocage. A obra será estreada na XXII Bienal de Música Brasileira Contemporânea, no Rio de Janeiro, em outubro.
Em 2017, aderindo aos movimentos populares contra o golpe parlamentar, compôs e apresentou, com apoio da ADUnB (Associação dos Docentes da Universidade de Brasília), em praça pública, sua Sinfonia dos Direitos. A obra, com duração de 40 minutos, foi escrita para coro, conjunto instrumental, orquestra de buzinas, bateria de escola de samba e sons eletrônicos. Em setembro de 2017, apresentou recitais de suas obras recentes em Brasília e no Rio de Janeiro, lançando seu novo CD Jorge Antunes, Meus Pianistas.
Também em 2017, recebeu convite da Cité Internationale des Arts para uma residência artística em Paris de 40 dias, em outubro/novembro. Durante a estada em Paris, realizará concertos de suas obras na Maison du Brésil e na série Multiphonies do GRM-INA (Groupe de Recherches Musicales de l’Institut de l’Audiovisuel). No período, também realizará exibição do filme de sua ópera Olga na Embaixada do Brasil, em Paris, e na Galerie Olga Benario em Berlim.