Mercado de Trabalho

Jorge Antunes

 

Para o baile de formatura do colégio Pedro II, em 1960, a vaquinha feita pelos estudantes permitiu-nos contratar a Orquestra Waldir Calmon. O solovox, instrumento único no Brasil, encantava as moçoilas e os rapazes do colégio padrão. Calmon se consagrou, a partir de 1944, tocando e dando emprego a músicos, no Cassino Atlântica em Santos, e no Cassino Copacabana no Rio. Com o fechamento dos cassinos, em 1946, a vida começou a fica difícil para os músicos.O maestro Guerra Peixe recebeu em 1938 o convite do Cassino Atlântico, de Petrópolis, para atuar como pianista. Adaptando-se ao estilo do crooner Moreira da Silva, consagrou-se como grande orquestrador, fazendo arranjos para a orquestra daquela casa de jogos. Guerra Peixe, por indicação de Vicente Paiva, em 1939, foi trabalhar como violinista na orquestra do Cassino Icarahy. O fechamento dos cassinos também tornou sua vida mais difícil.

Mario Zan conheceu, em 1940, o diretor do Cassino Atlântico, o polonês Ziembinski. Este, ao conhecer o trabalho do jovem acordeonista, o contratou imediatamente. Com o fechamento dos cassinos em 1946, a vida de todos os acordeonistas começou a ficar difícil.

O Clarinetista Abel Ferreira, que, quando menino do interior, tocou em bandinha de coreto, decidiu, em 1935, viver de música. Em 1943 se fixou no Rio de Janeiro, tocando no Cassino da Urca. Com o fechamento dos cassinos três anos depois, sua vida começou a ficar difícil.

Em 1921, Pixinguinha começou a tocar no Cassino Assírio, no subsolo do Theatro Municipal. O milionário Arnaldo Guinle, apaixonado por seu grupo, resolveu bancar a hoje histórica temporada de Pixinguinha em Paris. Com o fechamento dos cassinos, os músicos assistiram perplexos à arrasadora diminuição do mercado de trabalho.

O desastre do fim dos cassinos no Brasil teve uma artífice: dona Santinha. Foi a sra. Carmela Leite Dutra, mulher do presidente Dutra, que exigiu do marido a assinatura do decreto-lei 9.215, de 30 de abril de 1946, que fechou os cassinos. Dona Santinha foi mais longe: pediu que extinguisse o Partido Comunista Brasileiro. Seu desejo veio a ser atendido um ano depois.

Neste momento de crise, em que é cogitada a criação de novo imposto, acho bastante oportuno colocar-se em pauta a discussão sobre a legalização dos cassinos.

Em turnê de concertos recente, fiquei impressionado com a quantidade de brasileiros em Buenos Aires. A presença de tantos brasileiros tinha um motivo: o Cassino Puerto Madero. Milhares de brasileiros se deslocam até lá a cada ano, para evadir fortunas. Grandes fortunas brasileiras, que já deveriam estar sendo aqui tributadas, escorrem para as burras Hermanas a todo tempo. Urge reabrir os cassinos, cujos impostos vultosos poderão ajudar na arrecadação do que precisamos. Os cassinos, além disso, ampliariam o mercado do turismo e abririam novas e inúmeras vagas de trabalho direto e indireto.

 

Jorge Antunes é maestro e compositor

Fonte: Jornal O Globo