Governos do DF chefiando assassinos de trabalhadores
Jorge Antunes
maestro, compositor, professor titular da Universidade de Brasília
O assassinato de Gildo aconteceu em 6 de outubro de 2000. Na autópsia do corpo do líder sindical verificou-se que ele levou um tiro pelas costas. Gildo tinha 33 anos. Deixou esposa e dois filhos, uma menina de um ano e um menino de três que, hoje, estão respectivamente com 11 e 13 anos. Enquanto governou o Distrito Federal, Roriz impôs mão-de-ferro sobre os movimentos sociais. Após a morte de Gildo, Roriz privatizou o serviço de limpeza urbana.
A campanha promovida pelo PSTU é compreensível: Gildo era militante do partido. Gildo, que era diretor do Sindicato dos Servidores do DF e trabalhava no SLU, foi assassinado na greve de 2000 pela polícia. O PSTU acusa, dizendo que Gildo foi assassinado pela polícia de Roriz.
As Polícias são órgãos do Poder Executivo, que têm como chefe supremo, nas Unidades da Federação, o Governador. A expressão “polícia do Roriz”, usada habitualmente, não é, então, uma simples figura de retórica: é um pouco mais do que isso.
Mas, quando o PSTU, faltando apenas quatro meses para eleições no Distrito Federal, usa a expressão “polícia do Roriz”, é evidente que a triste memória do Governo Roriz é trazida à baila. Sabe-se também que vai ser candidato, mais uma vez ao governo, esse ex-Senador que renunciou para não ser cassado.
Mas quando fala na sanha assassina da polícia chefiada pelo governo Roriz, o PSTU isola o fenômeno, sem chamar atenção para o fato de que não foi aquele o único governo do DF em que movimentos populares foram reprimidos implacavelmente, chegando-se à chacina. O PSTU omite fatos semelhantes ocorridos no governo Cristóvam. Isso é grave e perigoso.
O ex-governador Cristóvam também foi ator, tal como Roriz, do mesmo cenário de repressão e de chacina. No governo de Cristóvam, uma ação da Polícia Militar, batizada de Operação Tornado, matou dois moradores da Estrutural. O massacre aconteceu em 9 de agosto de 1998. A expressão “polícia do Cristóvam”, referindo-se à uma hipotética sanha assassina cristovista, foi usada antes da expressão “polícia do Roriz”.
Enfim, a Polícia é sempre a mesma. Há pouco ela passou a ser a “polícia do Arruda” que reprimiu violentamente legítimas manifestações populares e estudantis contra a corrupção. Seus profissionais são sempre os mesmos, cada vez mais especializados e treinados. Suas ações, sempre norteadas pela hierarquia militar rígida, são sempre elaboradas e aplicadas por suas chefias. A organização estatal determina que a última ponta da cadeia hierárquica recaia na figura do chefe supremo: o Governador.
Os chefes anteriores querem voltar. Querem tomar o Poder Executivo. As mesmas figuras querem voltar a ser chefes supremos das Polícias.
Roriz é pré-candidato a governador integrando e liderando uma aliança de nanicos. Cristóvam é pré-candidato ao Senado, integrando uma chapa fechada que mistura alhos com bugalhos. Pensava-se que PT e PMDB fossem líquidos corrosíveis não miscíveis. Nada disso.
Certamente o povo do Distrito Federal aprendeu muito na última década. Uma espada de Dámocles intervencionista ainda baloiça sobre a cabeça do governo-tampão eleito indiretamente por um grupo de tribunos, muitos deles envolvidos em escândalo. Se o poder econômico não corroer as mentes do eleitorado, certamente o povo, atento à nossa história recente, saberá reagir e se precaver nas urnas em outubro.