ONU ganha cadeira no Conselho de Segurança do Brasil

 Jorge Antunes
Maestro, compositor, Pesquisador Sênior da UnB, Pesquisador do CNPq, membro da Academia Brasileira de Música

 

O governo dos Estados Unidos da América continua conseguindo tapear o Brasil com uma promessa insinuada, falsa e nunca explicitada: uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. O presidente Barack Obama, durante sua visita ao Brasil, enrolou o governo Dilma, omitindo o assunto de seu show-discurso no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Na recente visita de Dilma aos Estados Unidos a enganação continuou, dessa vez mais enfática, com expressivo silêncio sobre o tema. Com tudo isso, vão se alimentando a ilusão e a esperança do governo brasileiro.

O Itamaraty vai na onda, até certo ponto. Ele despertou um pouco quando viu o ressurgimento da Quarta Frota e teve sua memória cutucada, lembrando-se de que os imperialistas não estão, nunca, para brincadeiras e riscos de perda de hegemonia. A diplomacia brasileira, que também não é boba, percebe que, cada vez mais, o Brasil é cercado de bases militares norte-americanas instaladas em países vizinhos. Além disso, ninguém é cego ao ponto de não perceber que os USA avançam em sua hegemonia, de modo cada vez mais agressivo e belicoso. Por essa razão, apesar de aparentemente iludida com a esperança de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, a presidenta Dilma acorda e promete um fortalecimento do poder dissuasório das nossas forças armadas.

Mas se o Brasil não vai à ONU, a ONU vem ao Brasil. Essa é a novidade, a ironia, o deboche, com que somos brindados. A ONU terá sede própria em Brasília. O prédio já começou a ser construído. Anuncia-se para o segundo semestre de 2012 a entrega do primeiro módulo do projeto. O custo da obra está orçado em mais de cinco milhões de dólares. Quem financia tudo isso? O Brasil está presenteando a ONU e os interesses do império hegemônico, com dinheiro do povo brasileiro? Responderei essa pergunta mais adiante. Antes, vejamos como foram construídos prédios da ONU em outros países.

A Sede da Organização das Nações Unidas está localizada em Nova Iorque. Foi construída entre 1949 e 1952, em terreno localizado em Manhattan. Os Estados membros não gastaram um tostão com a compra do terreno. Tampouco o governo dos USA. A magnanimidade veio, em parte, do magnata norte-americano John Davison Rockefeller Júnior que ofereceu 8,5 milhões de dólares para a compra do terreno. Mas o projeto de construção do prédio estava orçado em 65 milhões de dólares. O governo norte-americano, então, fez um empréstimo de 65 milhões de dólares à ONU. Os Estados Unidos já foram totalmente ressarcidos: em 1982, a ONU devolveu, ao país anfitrião, a última parcela da dívida.

A ONU, que agora vai ganhar uma sede no Brasil, é financiada por contribuições dos seus Estados membros, entre eles o Brasil, e tem seis idiomas oficiais: Árabe, Chinês, Inglês, Francês, Russo e Espanhol. A organização, em cujo Conselho de Segurança os governos brasileiros têm sonhado ver o Brasil com assento permanente, não tem o Português como uma de suas línguas oficiais.

Não era nova, em 1949, a prática de os governos não gastarem dinheiro de seu povo, com palácios e sedes de organismos internacionais. Algo parecido já acontecera em 1920, com a criação da Liga das Nações. O Parque Ariana, onde está situado o palácio, foi oferecido à cidade de Genebra pela família Revilliod de La Rive. A doação foi feita com uma condição: a de que ali fosse erigido o suntuoso túmulo do Senhor de La Rive. Assim foi feito. Gustave de Revilliod, último descendente, no século XIX, da família proprietária dos Domínios de Ariana, ganhou exuberante sarcófago no Palácio das Nações.

A construção da sede da ONU em Brasília não conta com a magnanimidade de magnatas, herdeiros de fortunas e grandes empresários. A família Elke Batista não doou um tostão. O terreno localizado no Setor de Embaixadas Norte, com 3.135 metros quadrados, foi cedido pelo governo do Distrito Federal. O primeiro módulo da construção foi orçado em 5 milhões de dólares, dos quais a ONU paga apenas 1,7 milhões. O resto, num total de 3,3 milhões de dólares, é pago pelo governo brasileiro.

Não quero crer que o povo brasileiro tenhamos vocação para ser eterno otário. Ao final dos processos que escancaram a podridão de velhos detentores de ficha-suja e de administradores irresponsáveis, certamente saberemos escolher melhor nossos representantes e nosso futuro. A saga da nova sede da ONU nos mostra que não é apenas a Copa do Mundo de 2014 que suga nossas riquezas que deveriam estar destinadas às necessidades básicas do povo brasileiro, nas áreas de Saúde, de Transporte, de Segurança, de Cultura e de Educação.